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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Alguma Banalidade

     Foto: Roberta Bittencourt

ALGUMA BANALIDADE

por Enzo Potel

"O louco anda em círculos, até que salte em espiral" Lázaro Freire

Depois de assistir pela terceira vez o solo “Luisa”, da Sandra Knoll, me senti transitando pelas várias camadas da apresentação, um pouco mais próximo de vislumbrar tanta narrativa galaxiando em restos.
Primeiro: aquele espaço físico. Totalmente em aberto para quem atua nele e para quem o observa. Indefinível e compreensível: um pedaço alto de grade de madeira, uma caixa que serve de banco, longos fios elétricos desaguando em minúsculos lustres com fortes lâmpadas amarelas. Nesse espaço a atriz avança, caminha para trás sem olhar, arruma os cabelos, dança de olhos fechados, lê, improvisa, se integra à platéia. No espaço da atriz, que é uma soma madura e fenomenal de possibilidades apresentadas pela Sandra Knoll, a personagem Luisa organiza-se para dar voz a sua história. E também tira da bolsa suas digressões: objetos que aliviam (e prendem) personagem (e espectador) ao peso daquelas noites. Luisa também é atriz diante de sua condição: conseguimos ouvir a voz com que se imita, com que imita a mãe e com que imita Agustin. E sem um suporte como a Sandra, toda essa riqueza do texto poderia se perder.  
E qual a condição de Luisa? Cada pessoa que assistir à peça e fizer a ponte entre aquela mulher e as coisas que nunca poderemos ter, conhece a condição. A idéia fixa com que preenchemos a vida e que certa hora ganha vida própria. O labirinto da mente: quem é capaz de acompanhar e justificar o seu percurso, se as nossas obsessões parecem uma roda gigante de argumentos que vem e vão e voltam e não param até nos extinguir? E quando não existe aprendizado: quem cometeria a estupidez de dizer à Luisa o que ela deve sentir? Certas experiências, certos acessos a algumas banalidades vão fundo demais, e já é um milagre enorme depois de tudo isso manter a carne viva. 

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